quarta-feira, 12 de agosto de 2015

É preciso saber viver

Se existe algo em comum entre nós seres humanos o qual ninguém conseguirá se desviar de encontrar-se com ela, chama-se: morte. É impossível não conviver e caminhar em sua direção. Logo após abrirmos os olhos para a vida, começamos uma corrida a seu encontro, onde o percurso, pode até ser longo, porém, sem volta. De uma maneira ou de outra, cruzaremos a linha de chegada. As lágrimas de felicidade pelo nascimento de uma criança são as mesmas que derramamos pela morte de uma pessoa. A diferença está no sentimento que expressamos durante esses acontecimentos. Já convivi com as duas experiências. A primeira é maravilhosa, a segunda, triste e inesquecível. Na primeira, damos mil graças a Deus, na segunda, e em muitos casos, O questionamos com perguntas oriundas da dor e sob forte emoção da perda. Embora, possamos conviver com a morte pelas esquinas, não nos acostumamos com ela quando acontece com alguém do nosso relacionamento. Há pessoas que afirmam que gostariam de conhecer a soma dos seus dias, o exato momento em que deixariam de existir. Mas, o Autor da nossa existência é muito sábio.
Ele não nos permitiria andarmos aflitos, e ao acordarmos em cada manhã, saber que o nosso fim está cada vez mais próximo. Seria um duplo sofrimento. Basta cada dia o seu mal. Porém, existe um contraste muito grande entre os moradores das grandes metrópoles e os das pequenas cidades, os interioranos. Os habitantes das grandes metrópoles já estão insensíveis com as cenas de violência que assistem diariamente na televisão, oriunda de roubos e assaltos que terminam em mortes, que não mais se importam com a proximidade dela. Convivemos com a morte banal e corriqueira que somente nos impressionam quando muitas vidas são perdidas no mesmo instante, são o caso das chacinas ou das quedas de aviões, guerras ou como da boate em Santa Maria, por exemplo. Nos deparamos com cenas dantescas cometidas por assassinos frios e calculistas por quantias irrisórias e mesmo flagrados por câmeras de segurança, tais cenas, muitas vezes já não nos comovem mais. Cada dia que se passa a morte vai ficando mais íntima e a vida menos importante para aqueles que por motivos banais apertam o gatilho de suas armas. A vida perdeu o valor, a importância, o significado, o sabor e, acima de tudo, a beleza de se viver.
É possível passarmos pelas ruas e calçadas e depararmos com pessoas caídas sem saber se estão dormindo ou mortas. Mas há um outro porém. No interior, no pequeno vilarejo onde passei as férias, a vida continua sendo um espetáculo, ainda tem muito valor e a morte ainda vem carregada de muito respeito. Se respeita a morte, porque se valoriza a vida e se respeita o morto, porque sabe-se quem ele era. Embora a proporção seja infinitamente menor a de uma cidade grande, a morte continua igual em todo mundo, triste e sofrida. No interior quando acontece uma morte, geralmente por causas naturais de enfermidade ou velhice, é anunciada em rádio e dependendo ainda do lugar o comércio fecha as portas quando da passagem do esquife, em respeito ao morto e muita gente comparece ao enterro como forma de respeito, amizade e solidariedade com a família enlutada.

Foi isso que eu presenciei no interior. No pequeno cemitério, as pessoas iam chegando, os homens tiravam o chapéu e aos poucos as conversas ao pé de ouvido começavam. A história de vida do morto é discorrida relembrando a imagem e a maneira de viver antes do acontecido. Como seria bom que a morte fosse respeitada e a vida recebesse a importância devida tanto no campo quanto nas cidades grandes. Mas, infelizmente, a morte tem lá as suas faces. Enquanto alguns procuram de uma maneira ou de outra preservar a vida, outros desafiam a morte. O certo é que, tanto no campo, como na cidade, é preciso saber viver...

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