Se
existe algo em comum entre nós seres humanos o qual ninguém
conseguirá se desviar de encontrar-se com ela, chama-se: morte. É
impossível não conviver e caminhar em sua direção. Logo após
abrirmos os olhos para a vida, começamos uma corrida a seu encontro,
onde o percurso, pode até ser longo, porém, sem volta. De uma
maneira ou de outra, cruzaremos a linha de chegada. As lágrimas de
felicidade pelo nascimento de uma criança são as mesmas que
derramamos pela morte de uma pessoa. A diferença está no sentimento
que expressamos durante esses acontecimentos. Já convivi com as duas
experiências. A primeira é maravilhosa, a segunda, triste e
inesquecível. Na primeira, damos mil graças a Deus, na segunda, e
em muitos casos, O questionamos com perguntas oriundas da dor e sob
forte emoção da perda. Embora, possamos conviver com a morte pelas
esquinas, não nos acostumamos com ela quando acontece com alguém do
nosso relacionamento. Há pessoas que afirmam que gostariam de
conhecer a soma dos seus dias, o exato momento em que deixariam de
existir. Mas, o Autor da nossa existência é muito sábio.
Ele não
nos permitiria andarmos aflitos, e ao acordarmos em cada manhã,
saber que o nosso fim está cada vez mais próximo. Seria um duplo
sofrimento. Basta cada dia o seu mal. Porém, existe um contraste
muito grande entre os moradores das grandes metrópoles e os das
pequenas cidades, os interioranos. Os habitantes das grandes
metrópoles já estão insensíveis com as cenas de violência que
assistem diariamente na televisão, oriunda de roubos e assaltos que
terminam em mortes, que não mais se importam com a proximidade dela.
Convivemos com a morte banal e corriqueira que somente nos
impressionam quando muitas vidas são perdidas no mesmo instante, são
o caso das chacinas ou das quedas de aviões, guerras ou como da
boate em Santa Maria, por exemplo. Nos deparamos com cenas dantescas
cometidas por assassinos frios e calculistas por quantias irrisórias
e mesmo flagrados por câmeras de segurança, tais cenas, muitas
vezes já não nos comovem mais. Cada dia que se passa a morte vai
ficando mais íntima e a vida menos importante para aqueles que por
motivos banais apertam o gatilho de suas armas. A vida perdeu o
valor, a importância, o significado, o sabor e, acima de tudo, a
beleza de se viver.
É
possível passarmos pelas ruas e calçadas e depararmos com pessoas
caídas sem saber se estão dormindo ou mortas. Mas há um outro
porém. No interior, no pequeno vilarejo onde passei as férias, a
vida continua sendo um espetáculo, ainda tem muito valor e a morte
ainda vem carregada de muito respeito. Se respeita a morte, porque se
valoriza a vida e se respeita o morto, porque sabe-se quem ele era.
Embora a proporção seja infinitamente menor a de uma cidade grande,
a morte continua igual em todo mundo, triste e sofrida. No interior
quando acontece uma morte, geralmente por causas naturais de
enfermidade ou velhice, é anunciada em rádio e dependendo ainda do
lugar o comércio fecha as portas quando da passagem do esquife, em
respeito ao morto e muita gente comparece ao enterro como forma de
respeito, amizade e solidariedade com a família enlutada.
Foi
isso que eu presenciei no interior. No pequeno cemitério, as pessoas
iam chegando, os homens tiravam o chapéu e aos poucos as conversas
ao pé de ouvido começavam. A história de vida do morto é
discorrida relembrando a imagem e a maneira de viver antes do
acontecido. Como seria bom que a morte fosse respeitada e a vida
recebesse a importância devida tanto no campo quanto nas cidades
grandes. Mas, infelizmente, a morte tem lá as suas faces. Enquanto
alguns procuram de uma maneira ou de outra preservar a vida, outros
desafiam a morte. O certo é que, tanto no campo, como na cidade, é
preciso saber viver...
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