Hoje,
na hora do meu almoço, me vi obrigado a dividir a uma hora que tinha
entre o restaurante e mais dois bancos. E sabe como são bancos em
dias de pagamentos e próximos a ele, todos cheios. Por mais que se
informatizem, sempre existem as filas que nos roubam preciosos
minutos. Precisei ir a um banco que havia sido incorporado por outro
e quando entrei percebi que tudo estava diferente da rotina.
Provavelmente eu iria demorar mais do que esperava. Ainda mencionei
em sair e voltar no dia seguinte somente nele, mas, resolvi tirar
informação com o atendente. Ele prontamente se dispôs a me ajudar.
Eu que já havia me adaptado a pressa do dia a dia, ainda retruquei,
se for demorar eu volto amanhã, estou em hora de almoço e preciso
ir a outro banco. É
rapidinho,
disse-me o rapaz. E realmente foi. A uma hora de almoço foi
suficiente para ir aos bancos e almoçar, mas, uma palavrinha do
atendente me deixou refletindo em o quanto estou sendo conformado às
coisas rapidinhas do cotidiano. Foi preciso fazer tudo rapidinho
mesmo, em apenas sessenta minutos, pois era o tempo que eu tinha. Em
virtude da minha pressa, almocei em um fast-food que era mas fast do
que food. Comi muito, mas, me alimentei pouco.
Voltei
para a empresa ainda meditando em como estamos seguindo nossa
caminhada pelo tempo em uma velocidade incrível apesar de quase
imperceptível. Vivemos a maior parte do nosso tempo correndo atrás
de coisas que mudam cada vez mais rápido. Quando alcançamos
determinado objetivo, imediatamente surge outro, não podemos parar
no tempo. Não nos é permitido parar, é preciso avançar, correr,
ser o mais rápido posssível para acompanhar as transformações no
nosso viver. Nos esforçamos para acompanhar as mudanças das
circunstâncias e das coisas ao nosso redor que nos esquecemos de nós
mesmos. Todas as mudanças visam um melhor aproveitamento do tempo em
que dispensamos fazendo determinadas coisas. Estamos sendo engolidos
pelo tempo que não passa mais depressa do que a cinco, dez ou vinte
anos atrás, mas as coisas que há no mundo é que estão passando
com velocidade espantosa. O tempo é o mesmo, um dia contém as
mesmas vinte e quatro horas desde que se começaram a contá-lo. É
inacreditável como logo que abrimos os olhos pela manhã
deparamo-nos com a pressa, aliás, até o nosso sono parece que está
passando mais depressa, deitamos e
rapidinho,
acordamos.
Logo
nas primeiras horas do dia já é comum virmos pessoas, quando não
somos nós mesmos, correndo contra o relógio por estarem atrasadas
para mais um dia de trabalho. Entre solavancos ultrapassamos uns aos
outros para ganhar dois ou três degraus na escada rolante. Estamos
perdendo a luta para o relógio mesmo quando este nunca perde o seu
compasso. Tudo ficou mais rápido, aliás, tudo ficou rapidinho.
Paramos para o desjejum, mas tem que ser rapidinho. O almoço, nem se
fala, precisa ser rapidinho. Não comemos, engolimos. Os serviços
oferecidos, como no caso do banco, é necessário que todos sejam
feitos rapidinhos, se demorar um pouco mais, já ficamos impacientes,
não há tempo para esperar. As pessoas até já se acostumaram com o
rapidinho.
Se entrarmos em um restaurante, ou em outro lugar qualquer e
perguntarmos quanto tempo demora esse ou aquele serviço, a resposta
imediata é: é
rapidinho.
Mesmo que demore mais do que gostaríamos, mas é sempre o rapidinho
que ouvimos. Se pretendemos que um amigo ou qualquer outra pessoa que
gostamos nos acompanhe em determinado lugar, depois do convite, logo
completamos com a frase: é
rapidinho.
Tudo hoje precisa ser rapidinho. A era moderna exige rapidez e
eficiência, mas, nos cobra um alto preço por isso, a saúde.
No
serviço precisamos ser rapidinhos, no trânsito queremos ser
rapidinhos. Já não caminhamos mais nas ruas, mas, corremos
apressados de um lado para outro e muitas vezes não chegamos a lugar
nenhum. Queremos ganhar tempo e ao mesmo tempo ficamos sem tempo e
prisioneiros dele. Os filhos crescem rapidinho e nem os vemos
crescer. Os amigos vem e vão rapidinhos. Os dias, os meses e os anos
estão passando rapidinhos. A vida está passando rapidinha, a nossa
também. Não conseguimos acompanhar o seu ritimo, apesar de ela
sempre seguir no mesmo compasso. Estamos passando por ela rapidinho.
Os nossos olhos, nossos corações, nossos corpos, nossas mentes,
nossas ações estão se acostumando às coisas rapidinhas
e não as desfrutamos como deveríamos. Fazemos tudo rapidinho para
ganhar tempo e não percebemos o que estamos perdendo para o tempo.
Perdemos
a gentileza, a delicadeza, a calma, o humor, a paz, a tolerância, a
razão, a simplicidade, essas coisas também estão passando
rapidinho. O contrário dessas coisas é que deveria passar
rapidinho. Por isso, não vamos permitir que as coisas rapidinhas do
mundo substitua as duradouras da vida....
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