segunda-feira, 17 de agosto de 2015

É Rapidinho

Hoje, na hora do meu almoço, me vi obrigado a dividir a uma hora que tinha entre o restaurante e mais dois bancos. E sabe como são bancos em dias de pagamentos e próximos a ele, todos cheios. Por mais que se informatizem, sempre existem as filas que nos roubam preciosos minutos. Precisei ir a um banco que havia sido incorporado por outro e quando entrei percebi que tudo estava diferente da rotina. Provavelmente eu iria demorar mais do que esperava. Ainda mencionei em sair e voltar no dia seguinte somente nele, mas, resolvi tirar informação com o atendente. Ele prontamente se dispôs a me ajudar. Eu que já havia me adaptado a pressa do dia a dia, ainda retruquei, se for demorar eu volto amanhã, estou em hora de almoço e preciso ir a outro banco. É rapidinho, disse-me o rapaz. E realmente foi. A uma hora de almoço foi suficiente para ir aos bancos e almoçar, mas, uma palavrinha do atendente me deixou refletindo em o quanto estou sendo conformado às coisas rapidinhas do cotidiano. Foi preciso fazer tudo rapidinho mesmo, em apenas sessenta minutos, pois era o tempo que eu tinha. Em virtude da minha pressa, almocei em um fast-food que era mas fast do que food. Comi muito, mas, me alimentei pouco.
Voltei para a empresa ainda meditando em como estamos seguindo nossa caminhada pelo tempo em uma velocidade incrível apesar de quase imperceptível. Vivemos a maior parte do nosso tempo correndo atrás de coisas que mudam cada vez mais rápido. Quando alcançamos determinado objetivo, imediatamente surge outro, não podemos parar no tempo. Não nos é permitido parar, é preciso avançar, correr, ser o mais rápido posssível para acompanhar as transformações no nosso viver. Nos esforçamos para acompanhar as mudanças das circunstâncias e das coisas ao nosso redor que nos esquecemos de nós mesmos. Todas as mudanças visam um melhor aproveitamento do tempo em que dispensamos fazendo determinadas coisas. Estamos sendo engolidos pelo tempo que não passa mais depressa do que a cinco, dez ou vinte anos atrás, mas as coisas que há no mundo é que estão passando com velocidade espantosa. O tempo é o mesmo, um dia contém as mesmas vinte e quatro horas desde que se começaram a contá-lo. É inacreditável como logo que abrimos os olhos pela manhã deparamo-nos com a pressa, aliás, até o nosso sono parece que está passando mais depressa, deitamos e rapidinho, acordamos.
Logo nas primeiras horas do dia já é comum virmos pessoas, quando não somos nós mesmos, correndo contra o relógio por estarem atrasadas para mais um dia de trabalho. Entre solavancos ultrapassamos uns aos outros para ganhar dois ou três degraus na escada rolante. Estamos perdendo a luta para o relógio mesmo quando este nunca perde o seu compasso. Tudo ficou mais rápido, aliás, tudo ficou rapidinho. Paramos para o desjejum, mas tem que ser rapidinho. O almoço, nem se fala, precisa ser rapidinho. Não comemos, engolimos. Os serviços oferecidos, como no caso do banco, é necessário que todos sejam feitos rapidinhos, se demorar um pouco mais, já ficamos impacientes, não há tempo para esperar. As pessoas até já se acostumaram com o rapidinho. Se entrarmos em um restaurante, ou em outro lugar qualquer e perguntarmos quanto tempo demora esse ou aquele serviço, a resposta imediata é: é rapidinho. Mesmo que demore mais do que gostaríamos, mas é sempre o rapidinho que ouvimos. Se pretendemos que um amigo ou qualquer outra pessoa que gostamos nos acompanhe em determinado lugar, depois do convite, logo completamos com a frase: é rapidinho. Tudo hoje precisa ser rapidinho. A era moderna exige rapidez e eficiência, mas, nos cobra um alto preço por isso, a saúde.
No serviço precisamos ser rapidinhos, no trânsito queremos ser rapidinhos. Já não caminhamos mais nas ruas, mas, corremos apressados de um lado para outro e muitas vezes não chegamos a lugar nenhum. Queremos ganhar tempo e ao mesmo tempo ficamos sem tempo e prisioneiros dele. Os filhos crescem rapidinho e nem os vemos crescer. Os amigos vem e vão rapidinhos. Os dias, os meses e os anos estão passando rapidinhos. A vida está passando rapidinha, a nossa também. Não conseguimos acompanhar o seu ritimo, apesar de ela sempre seguir no mesmo compasso. Estamos passando por ela rapidinho. Os nossos olhos, nossos corações, nossos corpos, nossas mentes, nossas ações estão se acostumando às coisas rapidinhas e não as desfrutamos como deveríamos. Fazemos tudo rapidinho para ganhar tempo e não percebemos o que estamos perdendo para o tempo.

Perdemos a gentileza, a delicadeza, a calma, o humor, a paz, a tolerância, a razão, a simplicidade, essas coisas também estão passando rapidinho. O contrário dessas coisas é que deveria passar rapidinho. Por isso, não vamos permitir que as coisas rapidinhas do mundo substitua as duradouras da vida....

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