Cada
dia que se passa é muito fácil perceber algumas coisas importantes
em nosso viver que vão caindo em desuso que muitas vezes não
sentimos a falta e em outras ocasiões, estranhamos muito a sua
falta. Coisas que jamais poderiam ter um fim, mas por não ter uso
natural e contínuo, acabam sendo esquecidas. Não me refiro a
objetos ou algo físico que pelo uso normal se acabam, mas refiro-me
a certas virtudes intrínsecas dos seres humanos que deveriam
aumentar pelo uso constante e jamais diminuir. Uma delas, é a
gentileza, outra é a educação, de semelhante modo o respeito, a
solidariedade e a tolerância, tudo isso está acabando. Nas grandes
cidades, por causa da correria em que se vive e da luta pela
sobrevivência, talvez se explique um pouco, ainda que não se aceite
o fim dessas virtudes nas pessoas. Somos engolidos pelo estresse e
pela necessidade de sermos compatíveis no mercado de trabalho que
certos atributos humanos não se encontram mais em nosso cotidiano. O
que é uma pena.
Estamos
sendo entulhados por necessidades criadas em departamentos de
marketing que não sabemos mais o que é um viver simples de pessoas
simples. A luta entre o ser e o ter está chegando a seu final e ao
que tudo indica, o ser está sendo derrotado, não pelo ter, mas
enganado por este, está sendo derrotado por si mesmo. O ser está
cada vez mais fragilizado, sem forças para resistir ao ter. Podemos
até conquistar o mundo, mas estamos perdendo a alma para o mundo. Os
valores estão se invertendo. Viver tornou-se algo complicado. Em
busca da paz se declara a guerra. Se essa guerra for em nome de Deus,
é santa. Em nome do amor, se mata o objeto desse amor, o semelhante.
Pune-se os homens e maltrata-se as crianças, exige-se muitas coisas,
mas não abrimos mão de quase nada. Como alguém em certo lugar já
disse: dividimos o átomo, mas não dividimos o pão.
Medimos
nossa qualidade de vida pelo cifrão. Quanto mais almejo alcançá-lo
mais me torno seu refém. Nosso viver agora se mede pelos números,
mas eles são infinitos. Embora possamos ter muito, não representa
nada. Não podemos comprar certos valores que perdemos com o tempo
como se fossem mercadorias em supermercados. As coisas simples da
vida não tem preço. A vida é simples, mas, vivê-la está
complicado. Nossa alegria agora é triste, nosso prazer não
satisfaz, nossa tolerância é zero, nossa língua é como uma espada
afiada de dois gumes, nosso tempo está ficando cada dia mais curto.
Não que eu considere isso normal, apesar de parecer normal. Pensei
que tudo isso fosse apenas privilégio dos moradores das grandes
cidades. Ledo engano. Em uma terra usurpada pelo ódio e pelo rancor,
pela maldade, pela falta de amor e pelo mercantilismo vulgar onde só
a vida não tem preço, pois se acaba com ela por nada, todos os
lugares sofrem tal influência.
O
respeito está acabando, crianças e jovens nem sabem mais o que é
isso. A simplicidade perdeu terreno para a sofisticação e para o
orgulho. A inocência está por um fio. A confiança no semelhante
está a caminho da morte, agoniza entre a desconfiança e a
incerteza, entre a dúvida e o medo de acreditar no próximo. A
tranquilidade de se viver na área rural está se acabando. Mas o que
me chamou a atenção, é que essas virtudes até bem pouco tempo
atrás, era possível se notar com muita facilidade na gente simples
do interior. Agora com a invasão repentina de novos valores oriundos
das grandes cidades e que está sufocando e acabando com os bons
costumes e as virtudes das pessoas do campo, deixando os jovens a
mercê da sociedade alternativa onde apenas a natureza resiste
insólita, que nos cabe somente a pergunta: até quando ela
resistirá? Sinceramente eu não sei, mas, com a agilidade com que as
coisas caminham, creio que será por pouco tempo. Atitudes que se
perderam nos grandes centros e que pareciam invioláveis no campo,
hoje está se acabando.
O
som do rádio fanhoso ecoando pelos quatro cantos da casa foi
substituído com a chegada de carros tunados que invadem as praças e
os ouvidos de senhores e senhoras que, assustados, se rendem
perplexos à suas memórias. A pirataria já ancorou seus navios com
Cd´s e DVD´s de filmes e jogos e trouxe também os celulares, a
ostentação entre os jovens por roupas de grifes famosas ainda que
sejam réplicas. Está acabando o amor inocente. A “pegação”
veio pegar os jovens na mais tenra idade marcando-os com o sinal da
promiscuidade e da lascívia. O velho e tradicional cigarrinho de
palha, característica do homem do campo, em breve deixará de
existir. Os jovens o está substituindo por cigarros de maconha,
pedras de crack, cocaína e por outras drogas, que o simples prazer
de viver e poder desfrutar do milagre da vida, os sonhos, estão
virando pesadelos.
O verde do campo está se tornando cinza. O branco, símbolo da paz, está sendo manchado pelo vermelho da violência que teima em penetrar no celeiro da serenidade, destruindo a paciência, a calma e a tolerância da gente humilde da terra. Está se acabando os quintais sem muros, as conversas de vizinhos, as crianças nas ruas minguam atrás dos pipas. Os muros não dividem apenas os terrenos, mas as pessoas, os corações, os sentimentos e em alguns casos, a vontade de viver. As verdadeiras comadres ainda resistem ao tempo, mas estão sendo ultrapassadas em uma velocidade espantosa por fofoqueiras modernas, criadas pelas novelas, revistas e por programas de televisão vespertinos sem conteúdo algum que me leva a perguntar: será que realmente vale a pena ver de novo? Creio que não, mas quem sou eu para falar? Falando nisso, está se acabando os fogões a lenha, a comida caseira já vem pronta, o microondas dá as ordens na cozinha. As panelas de barro e de ferro estão vazias. Os peixes nos rios estão acabando, as pescarias nos finais da tarde está perdendo para o bate papo nos bares regados a pinga e a cerveja. A conversa simples deu lugar a discussões acaloradas sobre futebol, política e negócios. A internet, a televisão a cabo e os e-mails, estão acabando com as conversas sadias nas salas. As lan houses já engatinham rumo ao interior querendo se firmar o mais depressa possível para ligar as pequenas cidades e os mais distantes vilarejos ao mundo.
O verde do campo está se tornando cinza. O branco, símbolo da paz, está sendo manchado pelo vermelho da violência que teima em penetrar no celeiro da serenidade, destruindo a paciência, a calma e a tolerância da gente humilde da terra. Está se acabando os quintais sem muros, as conversas de vizinhos, as crianças nas ruas minguam atrás dos pipas. Os muros não dividem apenas os terrenos, mas as pessoas, os corações, os sentimentos e em alguns casos, a vontade de viver. As verdadeiras comadres ainda resistem ao tempo, mas estão sendo ultrapassadas em uma velocidade espantosa por fofoqueiras modernas, criadas pelas novelas, revistas e por programas de televisão vespertinos sem conteúdo algum que me leva a perguntar: será que realmente vale a pena ver de novo? Creio que não, mas quem sou eu para falar? Falando nisso, está se acabando os fogões a lenha, a comida caseira já vem pronta, o microondas dá as ordens na cozinha. As panelas de barro e de ferro estão vazias. Os peixes nos rios estão acabando, as pescarias nos finais da tarde está perdendo para o bate papo nos bares regados a pinga e a cerveja. A conversa simples deu lugar a discussões acaloradas sobre futebol, política e negócios. A internet, a televisão a cabo e os e-mails, estão acabando com as conversas sadias nas salas. As lan houses já engatinham rumo ao interior querendo se firmar o mais depressa possível para ligar as pequenas cidades e os mais distantes vilarejos ao mundo.
Estamos
encurtando o tempo e nos afastando das pessoas. Estão acabando com a
verdade e a mentira vem ganhando proporções gigantescas. Para
encobrir uma, conta-se outra maior ainda. O engano, a vantagem e a
aparência estão contornando a vida, o virtual está se contrapondo
ao real e este caminho é muito atraente, porém, escorregadio e
perigoso. O linguajar do campo em nada difere dos grandes centros,
exceto em alguns lugares, o sotaque ainda se distingue. A vida lenta,
o vento suave que embalava o rítmo na rede, o tempo que parece não
passar na roça, aos poucos estão sendo levados por ventos de
discórdia, pelo rítmo acelerado das metrópoles. As esquinas estão
ganhando as meninas que por sua vez querem ganhar as esquinas com
suas sensualidades.
O
sexo fácil com suas ilicitudes, o ninguém é de ninguém, o liberou
geral, o amor sem barreiras, sem preconceito, onde o importante é
amar, dizem, está levando jovens do mesmo sexo a se entregarem com
avidez a toda sorte de imoralidade. O é proibido proibir está
ganhando cada vez mais adeptos. O campo está assimilando com rapidez
as impurezas da cidade. Não se usa apenas pesticidas, formicidas, ou
inseticidas, mas, o homicida está presente nas fazendas, nos
canaviais, nos pastos e nos vilarejos tomando de assalto rebanhos,
máquinas e assustando os camponeses indefesos. Os cães pit bulls já
são notados nas casas e alguns já circulam pelas praças. A guerra
urbana virou rural.
Diante
de tudo isso ainda é possível ouvir o canto dos pássaros nas
árvores ou em seus ninhos cantando de alegria pelo nascimento dos
filhotes, cortejando as fêmeas para o acasalamento ou até mesmo em
bandos, em sinfonias harmoniosas que alegram nossos ouvidos. O canto
dos galos nos quintais defendendo a soberania entre as galinhas
também é um espetáculo a parte. Como é agradável poder ouvir o
ressoar dos sinos atravessando todo o vilarejo convidando os fiéis
para a missa. Ainda é possível desfrutar das belas paisagens do sol
se pondo por entre as árvores, deixando as tardes avermelhadas
dignas de cartão postal. As miríades de constelações no céu
infinito, que por falta da poluição, parece que brilham ainda mais
forte nas noites interioranas. Ainda existe o pipoqueiro na praça, o
bingo no coreto da matriz, as festas tradicionais, os carros antigos
circulando sem o sentido de raridade, a música brega resiste
bravamente as bandas de rock e as duplas sertanejas que invadem as
lavouras. As festas rave
já encontram seu espaço na cabeça dos jovens e por aí vai...
Não
sei até quando as coisas boas e simples do interior resistirão em
nome do progresso e de influências das grandes cidades. Não é
preciso descartar a ideia ou a possibilidade de um dia ir morar em
uma dessas cidades afastadas dos grandes centros, pelo menos por
enquanto, mas a vida tranquila e as coisas boas que só nas cidades
do interior se desfrutava, está acabando...
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