sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Na rua, na chuva, na fazenda e em São Paulo

O dia ainda não havia clareado e já estávamos a vários quilômetros de distância da capital rumo a uma cidadezinha do interior paulista. O calor predominava, mas depois de quase cinco horas e 450 quilômetros, chegamos ao nosso destino. Era quase a hora do almoço, mas como já nos esperavam, ele estava preste a ser servido, foi só o tempo de desfazer as malas, cumprimentar alguns parentes e almoçar. Algumas nuvens negras rodeavam todo o lugar anunciando que um temporal se aproximava e em pouco tempo despencaria em cima do vilarejo. Não nos importamos. O calor da capital havia se transformado em um calorzão do interior. Roupas leves se fazia necessário. E foi isso que eu fiz. Tirei os sapatos e a calça pois a camisa já havia tirado a minutos antes, calcei os chinelos, vesti uma bermuda e depois do almoço saímos para caminhar pelo vilarejo.
Mal começamos nossa caminhada e os primeiros pingos começaram a cair. O dia virou noite, as galinhas procuravam seus lugares nos puleiros por causa da escuridão. O ribombar dos trovões se acentuaram, os raios cortavam as nuvens negras como línguas de fogo até o chão e se perdiam nos campos e nas fazendas ao nosso redor. Pouco tempo depois as comportas do céu foram abertas e uma chuva gelada caiu torrencialmente nos pegando caminhando pelas ruas do lugar. Que sensação! Poder olhar para cima de olhos fechados sentindo no rosto a chuva que caia! O medo deu lugar a um desfrute inigualável só comparado com o meu tempo de criança. Eu já estva sem camisa. Tirei os chinelos e começamos a caminhar pelas ruas enlameadas do vilarejo. Não havia mais raios e nem relâmpagos e as nuvens negras haviam se dissipado deixando uma chuva forte lavando a alma daquele lugar. O sol lutava para soltar seus raios brilhantes que cortavam os pingos da chuva e formavam um belo arco-íris no horizonte.
Lembrei-me daquela expressão de quando criança, mas nem foi preciso eu mencionar pois ouvi da minha esposa que, mesmo sem querer me acompanhava, ao ver a beleza do espetáculo que a natureza nos proporcionava disse sem hesitar...
sol e chuva, casamento de viúva. Sorrimos e continuamos nossa caminhada escorregando os pés nas ruas de barro. Depois de alguns minutos a chuva parou. Uma sensação de frescor tomou conta do nosso corpo. O cansaço da viagem foi embora, os pastos brilhavam como se gotas de cristal repousassem sobre a grama. As árvores se encheram de fulgor e suas folhas ficaram viçosas que pareciam que ganharam nova vida com a chuva. Voltamos para a fazenda onde estávamos hospedados contemplando os pássaros que retomavam sua caminhada pelos ares cantando uma nova sinfonia. As galinhas já estavam a procura de minhocas acompanhadas de seus pintinhos. A nossa retina podia fotografar o espetáculo da vida depois de uma chuva. Passamos poucos dias na fazenda e logo retornamos para a capital. 
Hoje, poucos dias depois da chuva no interior quando o dia ainda não havia clareado eu já estava em pé para mais um dia de trabalho. Estava chovendo muito. Acordei um pouco antes do horário porque em dias de chuva é preciso sair mais cedo de casa devido o caos que se transforma a cidade. E foi como imaginei. Espera debaixo de chuva, ônibus atrasados e lotados, ruas alagadas, poças, guardas chuva por todos os lados, trânsito parado, semáforos desligados, motoristas estressados que com suas buzinas procuravam abrir espaço onde não havia, reclamações dentro do coletivo por causa de janelas fechadas ou abertas e para variar o Metrô com problemas. Era um dia para ser esquecido.

Foi nesse momento que parado, dentro do coletivo e suando muito que lembrei-me daquele dia de chuva no interior, quanta diferença! Aqui a chuva era bem menor, mas o transtorno que causava era absolutamente maior. Depois de quarenta minutos de atraso, cheguei ao trabalho mas gostaria de chegar sem chuva, pelo menos em São Paulo, e ainda tinha a volta...ufa, que dia, e olha que as chuvas ainda nem começaram e já estão fazendo estragos na cidade...é só escurecer e...vamos nos preparar.

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