quarta-feira, 12 de agosto de 2015

O Clique do Elevador

Já vão altas as horas e a madrugada se aproxima anunciando mais um dia, a segunda-feira. O fim de semana passou. A alegria do final de semana com a família havia se transformado em preocupação com o retorno dos filhos para casa. Era a minha rotina todos os finais de semana, aguardar a volta dos filhos. Nesse não foi diferente. Ao levantar-me para dar uma inspecionada se todos já dormiam, notei a ausência de um. O sono fugiu. Eu não conseguia mais dormir. Aproximávamos de uma hora da manhã. Vou esperar até uma hora, pensei. E ali, na escuridão do meu quarto, meus pensamentos percorreram as ruas e avenidas, as baladas e os amigos para encontrar o meu filho. O relógio passou quinze minutos da uma hora mas para mim parecia uma eternidade. A saída foi o celular. Ele estava ali, bem próximo, ao lado do rádio relógio que eu havia ligado para me distrair enquanto o tempo passava.
Fiquei titubeante em ligar para não constrangê-lo perante os amigos, para que ele não fosse motivo de chacota, pois os jovens não gostam desse tipo de preocupação dos pais. Mas enquanto os minutos passavam, meu coração aumentava os batimentos. Uma hora e dezoito minutos, resolvi ligar. “Esse número chamado encontra-se fora de área ou desligado” foi a resposta.A preocupação aumentou. Levantei-me, fui até a janela, abri um pouco a cortina para observar a rua com a esperança que ao olhar, pudesse vê-lo chegando. Nada. O silêncio tomava conta de tudo. O cenário amarelado, causado por uma névoa que refletido pelas lâmpadas na rua lembrava-me os filmes de terror. Não havia nenhum movimento nas árvores, não havia luar, não havia luzes de automóveis, tudo era escuridão. Fechei a cortina, liguei a televisão, mas nada diminuía a minha ansiedade. Agora faltavam cinco minutos para as duas horas da madrugada. Vou esperar mais cinco minutos e ligar outra vez.
Um barulho de moto descendo a rua me fez sair à janela novamente. Outra vez o silêncio. Voltei-me ao sofá com o celular na mão e tentei outra ligação. “Esse número chamado encontra-se fora de área ou desligado” foi a mesma resposta. Meu Deus, o que será que está acontecendo, onde está esse rapaz! Pensei. E esse celular que quando a gente mais precisa dele, não atende. Me acomodei no sofá, diminui o volume da televisão e procurei prestar a atenção ao filme que passava. Meu pensamento me levou até a minha juventude. Pude ver o meu pai me esperando na área da nossa casa quando eu chegava de madrugada.
Por várias vezes me disse não conseguir dormir enquanto eu ou qualquer  outro de seus filhos não chegasse. Naquele tempo não havia o celular, tentei justificar meu pensamento. O mesmo bendito celular que me deixava mais preocupado agora. Vocês vão ter os seus filhos e vão entender a minha preocupação disse o meu pai. Vi aquelas palavras proféticas dele se cumprindo em minha vida nesse dia. Duas horas e quinze minutos. Desliguei a televisão e voltei para o meu quarto. Pensei em acordar a esposa e comunicar a ausência de um filho.
Não foi preciso, ela acordou e perguntou sobre eles, se já tinham chegado. Falta um, respondi. Que horas são, perguntou-me sonolenta. Duas e vinte, respondi. E porque você não dorme, entrega nas mãos de Deus. O que vamos fazer? Concluiu. É, não tinha muito que fazer, só esperar. Elevei meu pensamento a Deus, pedindo a Ele que o guardasse de toda a violência e de qualquer outra forma do mal. Foi algo instantâneo. Um alívio tomou conta do meu coração, seu ritmo voltou ao normal, meus pensamentos se aquietaram e aquele silêncio só foi quebrado pelo clique do elevador. Ele voltou...zzzzzzz

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