quarta-feira, 12 de agosto de 2015

O complexo eu...

Ah! Se eu tivesse o poder nas mãos, não para conquistar o mundo, mas para libertar as pessoas prisioneiras de si mesmas. Pois nunca fomos tão livres e ao mesmo tempo tão prisioneiros dentro de nós. Prisioneiros do sistema, do dinheiro, do consumo, da fama, do status, do orgulho, prisioneiros da moda, da estética, da beleza, da luxuria, prisioneiros do sexo, dos jogos, dos vícios, Há prisioneiros em palácios, em mansões, nos templos, nas catedrais. Há prisioneiros livres nas ruas, nas igrejas, nos hospitais, somos fontes, porém sem água, jardins sem flores, história sem passado, adquirimos conhecimento mas não a sabedoria, o conhecimento se acumula a sabedoria se multiplica. Temos a vida, mas não o amor que é a expressão da vida. Estamos vazios a espera de sermos preenchidos.
Se eu tivesse o poder nas mãos, não para comprar o que quisesse, mas para vender, embora sem dinheiro e sem preço, um pouco de sonho, de alegria, para animar os desanimados, reerguer os abatidos, reconstruir os destruídos, para dar liberdade aos cativos, para quem sabe, sairmos do nosso claustro, das nossas cavernas e dos nossos esconderijos para sermos libertos do único lugar que jamais deveríamos ser cativos: na nossa mente. Se eu tivesse poder nas mãos, para fazer com que a luz do sol entre e  ilumine os recôncavos do nosso interior, até mesmo as nossas profundezas e que possamos enxergar nós mesmos, o que somos, nossas qualidades, nossos dons, nossas virtudes divinas, e expressá-las em nossa humanidade. Pois somos a imagem do Deus invisível e também a sua semelhança...
Se eu tivesse poder nas mãos, para acabar com a intolerância, o ódio, a ambição nociva, a maldade, rancor, traição, inveja, fofocas, medo. Se eu tivesse poder para fazer sorrir o que chora, saciar o faminto, consolar os abatidos, dar paz aos aflitos, ancorar os náufragos do mar da vida, os solapados pelas tempestades da incerteza e fazê-los navegar nas águas da emoção, seguros pelas mãos da tranquilidade e caminhar de peito aberto pelos caminhos do coração, ouvindo a voz da razão, sentindo o vento da paz no rosto com a certeza de chegar.
Se eu tivesse poder para destruir as fortalezas impenetráveis da mente humana de seus sofismas e altivez, suas más intenções e maus pensamentos, faria ruir a parede da separação racial que cultiva a inimizade, gera mágoas, fortalece o rancor, prolifera a discórdia e acima de tudo interrompe a reconciliação. Esses sentimentos quando alimentados, impedem o brotar do perdão, o sentimento mais puro e singelo que existe. O perdão reata a amizade, liberta os algozes que nos causam dores na alma, extirpa as raízes de amargura, renova as esperanças, fortalece os sonhos dando nos força, entusiasmo e motivação para viver. O perdão afugenta a depressão, põe fim na ansiedade, satisfaz o espírito e nos devolve a paz.
Se eu tivesse o poder para penetrar no solo do pensamento humano e cultivar flores de esperança, irrigar os sulcos da alma abatida com jatos de alegria, fazer barragem no sofrimento, plantar sementes de justiça, de cortesia, de bondade, regar a paciência e colher os frutos de amor em cada ser humano! Se eu tivesse poder nas mãos, para arrancar as ervas daninhas do egoísmo, da ansiedade, erradicar a praga da mentira, da crítica sem razão, da falsidade, da calúnia, da intriga e espalhar ao vento pétalas de gentileza molhadas pelo orvalho do agradecimento que em todas as manhãs, ao se dissipar, deixa suave a brisa da felicidade e um frescor de vida que nos estimula a prosseguir.
Se eu tivesse poder nas mãos, pavimentaria nossa estrada da vida com amor, com gratidão, para que não houvesse nenhum acidente ou curvas perigosas, para que não houvesse derrapagens e nem ultrapassagens motivadas pela ganância ou pelo desrespeito. Se eu tivesse o poder nas mãos para governar esse mundo, a sabedoria seria minha conselheira, derribaria as divisas do preconceito, da violência. Guerra, fome, desprezo, calúnia, dores e morte não fariam parte do nosso dicionário, mas a compreensão, amizade, união o sorriso largo seria o nosso cartão de visitas. Todas essas coisas estão em mim. Tanto as boas como as más. As que eu mais alimento são as que mais expresso.

Vivo nesse complexo eu. Ah! Se eu tivesse poder para praticar só as coisas boas! Se eu tivesse, eu não seria eu, seria Deus...

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