terça-feira, 11 de agosto de 2015

O que lembrar antes de esquecer

Foi lendo uma matéria sobre o sofrimento que aflige as famílias que tem alguns de seus membros atingidos pelo mal de Alzheimer, das pesquisas incansáveis de cientistas que procuram a cura para as gerações futuras, o que pode incluir seus próprios descendentes, sobre o mistério e desconhecimento que ainda temos dessa doença que historicamente é associada ao envelhecimento, que imediatamente lembrei-me do filme: Para Sempre Alice, cuja personagem descobre os primeiros sintomas da doença ao completar 50 anos de idade. Isso levou-me a refletir sobre a dor de pessoas que convivem diariamente com seus entes queridos que esqueceram de cenas e situações que pareciam inesquecíveis. Como não sofrer ao ver um pai ou uma mãe não recordar do seu próprio filho sabendo que por décadas conviveu com sorrisos, traquinagens, peraltices, birras, beijos, abraços e acompanhou o balbuciar de cada palavra, ouviu choro, deu conselhos, orientou cada passo na vida e de repente esquecer até mesmo de quem era!
Deve ser algo muito triste para uma família o fato de conviver com uma pessoa tão próxima sabendo que ela está tão distante. No mundo cinzento, agitado, estressante das grandes metrópoles, onde a vida passa como em um passe de mágica e onde cenas e momentos de felicidade com as pessoas que amamos estão cada vez mais escassas, esquecer uma delas, mesmo que seja por breve tempo, faz da nossa vida um romance sem história, uma noite sem luar e faz da nossa vida um mero passatempo. Um viver sem lembranças, sem memória e sem recordações torna-nos um corpo sem alma, um envólucro sem conteúdo, um recipiente vazio e sem utilidade destinado a ser descartado, jogado fora pela falta de uso. Por outro lado, é necessário que os que convivem com essa situação e enfrentam no cotidiano as dificuldades de pessoas com essa doença, precisam ser pacientes, cheias de amor e carinho para poder compreender e aceitar pacientemente, pelo menos por enquanto, o esvaziar da vida que aos poucos vai ceifando a vitalidade de pessoas outrora tão fortes e sadias e até mesmo sonhadoras que como um piscar de olhos apagam da memória o sabor da vida.
Ainda não existe uma cura, embora as pesquisas avancem, para fazer com que a borracha do Alzheimer não continue apagando pessoas, lugares, conversas e momentos que formam a base do nosso viver. Enquanto recordamos de todo o nosso passado recente, de cenas e situações que permanecem frescas em nossa memória, é impossível imaginarmos que um dia elas poderão ser deletadas, como se deleta arquivos de computadores, porém, sem a nossa permissão ou controle, sem deixar nenhum registro armazenado capaz de recuperá-los. Nossa máquina não é lógica. Ela pensa, decide, é estimulada, tem vontade, desejos, sonhos, metas, se emociona, chora, mas, contra o Alzheimer ainda não tem um antivírus eficaz que possa manter nossa memória sempre ativa. 
Por essa razão, é importante desfrutar o máximo que pudermos das coisas boas da vida como do bom relacionamento familiar, de boas e inesquecíveis amizades, das metas alcançadas, dos sonhos realizados, dos obstáculos vencidos, das músicas marcantes, das viagens fantásticas, dos grandes ou pequenos, porém, memoráveis eventos, pois, são essas coisas que tornam nosso viver feliz e emocionante. Esquecer de tudo isso seria como navegar pela imensidão dos mares, perdido, sem rumo, sem bússola, sem nenhum porto para ancorar. É observar todo universo sem poder contemplar a beleza e o fulgor das estrelas, é saber que estamos na primavera sem poder sentir o aroma das flores, é sorrir sem se alegrar, viver sem emoção. Que jamais esqueçamos que a vida é um espetáculo único e viver é melhor do que morrer...

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