Foi
lendo uma matéria sobre o sofrimento que aflige as famílias que tem
alguns de seus membros atingidos pelo mal de Alzheimer, das pesquisas
incansáveis de cientistas que procuram a cura para as gerações
futuras, o que pode incluir seus próprios descendentes, sobre o
mistério e desconhecimento que ainda temos dessa doença que
historicamente é associada ao envelhecimento, que imediatamente
lembrei-me do filme: Para Sempre Alice, cuja personagem
descobre os primeiros sintomas da doença ao completar 50 anos de
idade. Isso levou-me a refletir sobre a dor de pessoas que convivem
diariamente com seus entes queridos que esqueceram de cenas e
situações que pareciam inesquecíveis. Como não sofrer ao ver um
pai ou uma mãe não recordar do seu próprio filho sabendo que por
décadas conviveu com sorrisos, traquinagens, peraltices, birras,
beijos, abraços e acompanhou o balbuciar de cada palavra, ouviu
choro, deu conselhos, orientou cada passo na vida e de repente
esquecer até mesmo de quem era!
Deve
ser algo muito triste para uma família o fato de conviver com uma
pessoa tão próxima sabendo que ela está tão distante. No mundo
cinzento, agitado, estressante das grandes metrópoles, onde a vida
passa como em um passe de mágica e onde cenas e momentos de
felicidade com as pessoas que amamos estão cada vez mais escassas,
esquecer uma delas, mesmo que seja por breve tempo, faz da nossa vida
um romance sem história, uma noite sem luar e faz da nossa vida um
mero passatempo. Um viver sem lembranças, sem memória e sem
recordações torna-nos um corpo sem alma, um envólucro sem
conteúdo, um recipiente vazio e sem utilidade destinado a ser
descartado, jogado fora pela falta de uso. Por outro lado, é
necessário que os que convivem com essa situação e enfrentam no
cotidiano as dificuldades de pessoas com essa doença, precisam ser
pacientes, cheias de amor e carinho para poder compreender e aceitar
pacientemente, pelo menos por enquanto, o esvaziar da vida que aos
poucos vai ceifando a vitalidade de pessoas outrora tão fortes e
sadias e até mesmo sonhadoras que como um piscar de olhos apagam da
memória o sabor da vida.
Ainda
não existe uma cura, embora as pesquisas avancem, para fazer com que
a borracha do Alzheimer não continue apagando pessoas, lugares,
conversas e momentos que formam a base do nosso viver. Enquanto
recordamos de todo o nosso passado recente, de cenas e situações
que permanecem frescas em nossa memória, é impossível imaginarmos
que um dia elas poderão ser deletadas, como se deleta arquivos de
computadores, porém, sem a nossa permissão ou controle, sem deixar
nenhum registro armazenado capaz de recuperá-los. Nossa máquina não
é lógica. Ela pensa, decide, é estimulada, tem vontade, desejos,
sonhos, metas, se emociona, chora, mas, contra o Alzheimer ainda não
tem um antivírus eficaz que possa manter nossa memória sempre
ativa.
Por essa razão, é importante desfrutar o máximo que
pudermos das coisas boas da vida como do bom relacionamento familiar,
de boas e inesquecíveis amizades, das metas alcançadas, dos sonhos
realizados, dos obstáculos vencidos, das músicas marcantes, das
viagens fantásticas, dos grandes ou pequenos, porém, memoráveis
eventos, pois, são essas coisas que tornam nosso viver feliz e
emocionante. Esquecer de tudo isso seria como navegar pela imensidão
dos mares, perdido, sem rumo, sem bússola, sem nenhum porto para
ancorar. É observar todo universo sem poder contemplar a beleza e o
fulgor das estrelas, é saber que estamos na primavera sem poder
sentir o aroma das flores, é sorrir sem se alegrar, viver sem
emoção. Que jamais esqueçamos que a vida é um espetáculo único
e viver é melhor do que morrer...
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