No mundo da sobrevivência e
da sub-existência, a luta para se manter entre a sub e a existência
tem sido muito acirrada. Homens e mulheres, verdadeiros heróis
urbanos, tentam de todas as maneiras possíveis e imagináveis vencer
a luta contra as incertezas, contra o medo, contra o preconceito.
Lutam de peito aberto pelas esquinas da vida, entrincheirados,
acuados e desprotegidos, sendo quase sempre, atacados de surpresa por
inimigos truculentos, organizados, preparados para o ataque
repentino. Em uma luta cruel armados apenas de paz, coragem e força,
disparam esperança àqueles que se solidarizam por suas causas.
Caçados
a exaustão por feras comandadas por generais em seus “bunkers”, os camelôs são encurralados em becos, esquinas, ruas sem saída, aliás, saída
é o que eles procuram, uma saída para a vida. Diariamente vão e
voltam arrastados implorando com lágrimas, as migalhas que caem pelo
caminho, afim de poderem trazer o pão para suas mesas. Diante de
algumas cenas de barbárie, muitas vezes são humilhados,
considerados escória da sociedade, que indefesa como eles, assiste
sob olhares indignados as atrocidades e a violência como são
repreendidos.
Sobreviver
é a meta da maioria deles. Ainda que seja uma simples busca por um
pouco de oxigênio para manter acesa a chama da esperança, do fôlego
de vida, da razão de viver é que faz deles verdadeiros super-heróis
anônimos. Enquanto se escondem, fogem daqui, correm dali, recolhem
as sobras do pouco que lhes restam, as verdadeiras raposas em seus
covis observam em seus “bunkers”
sob ar condicionado o sofrimento dos descamisados. Enquanto o
turbilhão não se acalma, vão comendo os asmos da injustiça e as
raposas engravatadas estão se “lixando”
com o que pensam, o que falam e como sobrevivem os pobres dessa
nação.
Muitas
vezes, quantos de nós já reclamamos, ou até mesmo ficamos no
prejuízo ao adquirir algo de um deles sem saber a procedência e por
essa razão fazemos um julgamento sem misericórdia incluindo tudo e
todos na mesma sentença, nenhum
presta. Se
estão vendendo isso ou aquilo, é porque são folgados
e
não gostam de trabalhar, concluímos. Não sabemos da dor que é para
cada um desses cidadãos, com algumas ou com muitas exceções é
claro, levar a sobrevivência para os seus filhos.
Começando pela madrugada
avançam pelas manhãs, atravessam desertos de dias escaldantes
outros frios, se debaixo de chuva fina ou torrenciais, com saúde ou
em busca dela se com fome ou procurando saciá-la, vivem a
expectativa de supostos direitos e na promessa de um lugar ao sol.
Mas e a apreensão por um grito a qualquer momento os fazem viver sob
tensão. Ganhar dinheiro honestamente é muito difícil. É preciso
muito suor, muitas lágrimas e muita perseverança, mas ao final, é
algo gratificante. Poder dormir com a consciência tranquila não tem
preço. Poder olhar os filhos e esperar que eles o tenham como
modelo, não tem preço.
Alguns dias atrás, vi um
desses cidadãos que não ouviu o grito de alerta e sem que
percebesse, foi-lhe subtraido os seus pertences. Como uma presa
acuado por seu predador, como palha levada pelo vento, não sabia o
que fazer diante de tamanha surpresa. Debatia-se como um peixe
fisgado por um anzol ao retirá-lo das águas, mas de nada adiantava
a sua força e seu clamor não era ouvido por seus algozes.
Assistíamos indignados aquela cena. Era a luta do cordeiro contra o
leão. Eram gritos de clemência e de desespero que retiniam sem
palavras aos ouvidos insensíveis de truculentos soldados impiedosos.
As lágrimas se misturavam com
as sobras que caiam pelo caminho, que ele como um cão que anseia por
migalhas da mesa do seu dono, ia recolhendo seguindo aqueles
soldados.
Como se tivesse com suas
entranhas expostas ao rídiculo e sofrendo a dor do descalabro, um
fio de esperança brotava. Era possível recuperar suas mercadorias.
Essa era a rotina. Todos os dias ele ali estava, perseguido, porém
não desamparado, abatido, porém não destruído.
Mas
precisava ter um ouvido mais atento, de erudito, para no primeiro
momento que ouvisse o grito de: olha
o rapa!...sair
correndo...
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