sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Saudosismo

Naquele tempo...sempre que ouvimos ou falamos essa frase, nós mesmos ou talvez quem nos ouça, sem pensar já formulamos nossa critica, quer em pensamento ou expressamos com nossas palavras. Saudosismo não...Parece que essa frase virou sinônimo de retrocesso, coisa ruim de um passado não muito distante, velhice, algo pejorativo, sem importância etc...Mas o que passou pode ter marcado demais a vida de muitas pessoas. É com muita saudade sim que me lembro de alguns fatos do passado, que hoje, por tê-los vivido, me dá suporte para suportar a modernidade presente. Como diz um dito popular: recordar é viver. Se formos comparar nosso passado recente com o presente, talvez mudemos a nossa maneira de pensar. Em nome do progresso até nosso pensamento foi atingido. Pensamos de acordo com os valores da mídia. Em nome de uma evolução, matamos os sonhos, o romantismo, a gentileza, a educação, os valores morais, religiosos, familiares e acima de tudo o respeito com o próximo, com os idosos, com as crianças, tudo parece se esvair entre nossos dedos como uma barragem que não suporta a força da água.
Os bons costumes estão desaparecendo. Se é saudosismo em sentido negativo, apenas eu mesmo posso dizer. Mesmo assim agradeço tudo o que aprendi no passado e que, até agora, me tem sustentado diante dessa avalanche de informações que recebemos diariamente. Ter informação e conhecimento não é mal, mas permitir que tudo isso nos roube a arte de pensar, de ponderar e decidir, isso não é normal. Por isso recordo sim, e com muita saudade, do tempo em que eu podia fazer meus próprios brinquedos, de madeira, de lata, quer da maneira que fosse, isso me estimulava a pensar. As crianças cresciam aprendendo a pensar. Mas devido ao modernismo e a correria do tempo presente, compramos nossos filhos com brinquedos eletrônicos, aliás, brinquedos virou toys, jogos virou games, estamos “americanizando” nossa cultura e nossos filhos em nome da modernidade. Não percebemos que estamos desestimulando-os de crescer na arte de pensar. Pense um pouco...onde estão aquelas brincadeiras de rua? Eram tantas que não há necessidade nem de mencioná-las. Hoje não temos mais as brincadeiras, não podemos mais andar nas ruas. As brincadeiras acabaram, as ruas viraram avenidas. Os campos de futebol, deram espaço a grandes empreendimentos imobiliários, aos shopping-centeres.
Em nome do progresso, acabamos com os velhos parques, que deram lugares aos temáticos, que apenas alguns privilegiados economicamente podem dele desfrutar. Os circos, foram substituídos por shows, eventos, cercados de uma mídia extraordinariamente nociva que tenta vender às crianças, determinada marca deste ou daquele produto. O consumismo não tem parâmetro. As crianças hoje são público alvo do marketing econômico. Os verdadeiros palhaços deram lugar aos comediantes pragmáticos com seus roteiros grosseiros que em nada lembram os anteriores. Levam as crianças a terem pensamentos cheios de segundas intenções com suas piadas, em certos casos, impróprias até para maiores. Os vendedores de algodão doce em suas carroças de pedais, os que vendiam maçãs do amor, sorveteiros, piruliteiros que disputavam seus clientes aos risos, todos eles atraiam as crianças ao seu redor, as quais não corriam riscos de sequestros ou coisas do tipo. Hoje não os vemos mais. As conversas dos mais velhos nas calçadas, dos vizinhos nas janelas. Hoje as calçadas estão ocupadas por pedintes que nos rogam alguns trocados, que nem sempre acreditamos que tais pedidos sejam verdadeiros, para continuarem sua luta pela sobrevivência. Também por vendedores ambulantes com todo tipo de comércio, em sua maioria ilegal ou contrabandeado disputando aos gritos os compradores que por eles passam apressados.
Da família, aprendíamos a respeitar os mais velhos. Não devia retrucar com os idosos e muito menos com os pais. Aprendi que devia levantar-me do lugar em que estivesse, quando ao meu lado houvesse uma pessoa mais velha, não importando ser homem ou mulher. Aprendi a não falar “palavrões” não por imposição, mas porque não ouvia ninguém falando. Além disso, havia as palavras que eram repetidas em qualquer atitude, como: por favor, muito obrigado, com licença. Meu pai era o meu modelo e exemplo. O moral (estado de espírito) e a moral, (princípios de uma sociedade ou pessoa) assim como a boa educação faziam parte dos ensinamentos familiares. Não que isso se perdeu nas famílias hoje em dia, mas em nome do progresso e liberdade de expressão posso falar o que quiser sem medir com isso a responsabilidade de cada palavra proferida.
Se ferir ou não os ouvintes, o problema não é meu. Muitas vezes sou saudosista ao entrar em qualquer transporte coletivo e deparo-me com senhoras em pé procurando ansiosamente um assento, enquanto jovens fingem um sono improvável no momento. Sou saudosista ao ouvir esses mesmos jovens com suas conversas onde a cada duas palavras, uma é sem moral. Sem contar na falta de respeito, pois falam e agem entre si como se ninguém os tivessem ouvindo e vendo suas peripécias. E se alguém for questionar qualquer atitude que seja, corre-se o risco de ouvir o que não deseja, como: cuida da sua vida que da minha cuido eu. A família era o padrão não apenas da criança e do cidadão, mas da própria sociedade de modo geral. Hoje é a televisão.
Na escola éramos estimulados e incentivados ao hábito da leitura, de escrever, de ter o que falar e o que responder. A educação cívica era ensinada e praticada nas escolas. Hoje para se ter um bom curriculum escolar, há a necessidade de desembolsar altas quantias para isso, e nem todos os estabelecimentos de ensinos, como são chamados as escolas de hoje, são de boa reputação. Em grande escala, a maior preocupação são com os recursos financeiros que podem tirar de pais que querem dar aos seus filhos aquilo que ele acha que não teve. Hoje esses estabelecimentos são carregados de tarefas extra-curriculares para atrair os pais mais preocupados em manter seus filhos fora das ruas do que com o próprio aprendizado em si. São aulas de inglês, judô, ballet, informática, música e tantas outras coisas que simplesmente roubam das crianças o tempo de ser criança. Para tudo tem seu tempo debaixo do sol. A não violência, outro item que me traz saudade.
Não era comum e nem normal, as cenas que assistimos on-line, via satélite, na internet e que acontecem em todos os países e que são reproduzidas em jogos eletrônicos, levando as crianças e jovens a se identificarem com o que vêem. Não víamos guerras por causas fúteis e pessoais que alimentam com a morte, o ego de alguns homens, que detém a verdade através da mentira. Hoje, os tiroteios são muito mais assustadores do que algumas guerras. São balas que cortam o vento e sempre encontram alguma pessoa. Não são balas perdidas, mas nós é que estamos perdidos e as balas estão nos encontrando. O desemprego ou o subemprego, tem levado homens e mulheres de meia idade, outrora capacitados, hoje estão renegados em busca de latinhas de refrigerantes para sobreviverem. A informática, outro mal necessário. O computador tem substituído o homem em vários aspectos humanos. O homo sapiens está virando máquina e as máquinas virando homem. Estamos perdendo a gentileza e a humanidade. Não conhecemos nosso vizinho. Não damos mais aquele bom dia às pessoas que moram no mesmo andar. A frieza das máquinas invadiu o romantismo dos homens. E por falar em romantismo, como tenho saudade dele.
Como não ter saudades da paquera? da ingenuidade do primeiro beijo? das tardes de domingo ensolaradas? do frio, da chuva, do futebol sem violência? Acho que sou saudosista demais...Hoje a paquera virou ficar, os jovens estão ficando, ficando...ficando com aids, ficando viciados, estressados, doentes, angustiados, sonolentos, preguiçosos, raivosos etc...Aquela ânsia do primeiro beijo, virou necessidade da primeira transa. A virgindade, defendida por muitas mulheres outrora, virou sinônimo de caretice, burrice, bobagem e de gozação entre as meninas, algo que algumas aos dez, onze, doze anos já não sabe o que é a muito tempo. A concorrência em ficar com o maior número de parceiros durante uma noite, virou uma disputa entre os jovens. A guerra pelo sexo desenfreado, tem matado os jovens e trazido ao mundo crianças sem amor. Resultado de um simples ato carnal sem amor.
O instinto carnal explodiu a concupiscência dos jovens despertando neles a volúpia sexual desesperada. E o resultado dessa explosão de hormônios são: gravidez precoce, filhos indesejáveis, adolescência interrompida, mães, que apesar do dom divino, mãe é mãe, solteira é estado civil, muitas ficam sem rumo e discriminadas ainda na juventude. E os pais, os jovens do sexo masculino, se gabam por terem um filho, ostentando-os para que toda a sociedade veja como se fossem seus troféus. Alguns os tem com duas ou três mães diferentes. O romantismo da conquista ficou na saudade. Não que eu seja o último romântico, mas a cortesia, o cavalheirismo, a gentileza, princípios tão básicos e elementares da boa educação e do relacionamento humano são páginas viradas em nosso viver. O sistema do mundo está um caos. O trânsito está um caos. O planeta está um caos. Estamos mergulhados nesse caos. O aquecimento global, a poluição, a engenharia genética, que tem levado o homem a brincar de deus, a televisão que nos massifica e nos rouba um tempo precioso, onde passamos as nossas tardes de domingo gastando o tempo diante de apresentadores medíocres e seus palavreados inúteis ao invés de gastarmos em conversas familiares. O preço que pagamos para ter uma melhor qualidade de vida e a força da mídia tem influenciado a nossa maneira de vida de forma violenta e abrupta. Sem falar na ganância mercantil, na corrupção, na política suja que tem envolvido os cidadãos, enfim, temos pago um alto preço pelo progresso, pelo que é moderno. E com tudo isso, não posso ter saudades do olhar no olhar, do aperto de mão, do cinema mudo, dos desenhos infantis sem nenhuma mensagem subliminar, das crianças correndo nas praças, sem o fantasma da pedofilia, da pornografia, das casa de muros baixos sem grades, dos vira-latas que as guardavam, estes foram substituídos por pit-bulls e rotweillers treinados para matar?
Como não ter saudades dos bailes de garagem, do rock in roll lullabay, das vestes decentes, cabelos penteados? Hoje o som é “rave(do inglês "to rave" = delirar, delírio) música "tecno" misturada ao hedonismo (onde tudo é permitido) do corpo e do espírito pela dança, o primitivo e o tecnológico interagem de forma simbiótica. Assim, a música tribal, drogas do amor (o êxtase) nos mostra como as novas tecnologias se aproximam, pelo uso, a arquétipos ancestrais. E ainda dizem que o movimento rave é ao mesmo tempo cultural, social e político, mas não passa de algo alucinante. (As raves são proibidas em vários países da Europa). O rock veio acompanhado de sexo e muitas drogas, piercing, calças largas mostrando as cuecas é o que “pega” dizem, calça de cintura baixa das jovens, que mais são para serem observadas do que vestidas, levam os jovens a percorrer longínquos caminhos em seus pensamentos apenas para despertar nesses ainda mais a libido.
A sensualidade tem feito das mulheres prisioneiras da beleza e todas sonham alcançar tal padrão de beleza idênticos aos das top models mundo afora. Se olham nos espelhos em buscas dos defeitos e não das qualidades. Espero que um dia, não teremos saudades dessas coisas, que servem apenas para acabar com o linguajar sadio dos jovens, que os influenciam a desobedecerem os pais, as autoridades, os professores etc...Saudosismo. Se pudéssemos preservar o passado, o presente não seria tão cruel e no futuro haveria mais paz, solidariedade, compreensão, respeito, amor e menos ódio, inveja, rancor, suicídios, mas como mudar o mundo? Talvez mudando as pessoas. Quando eu mudo, posso influenciar as pessoas no meio em que vivo.

Há uma pessoa que mudou o mundo, mudou a história e até hoje continua mudando e influenciando as pessoas a viverem de modo digno e respeitável. Ele era um homem como todos os homens, a única diferença é que ele vivia por Deus e para Deus e era Deus. Hoje está em nós e quer que mudemos para o mundo mudar. Ele quer viver em nós para que nós vivamos Nele. Nunca alguém tão grande se fez tão pequeno para tornar os pequenos tão grandes. Viver por Cristo, é possível. Que tenhamos saudades Dele...

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