Naquele
tempo...sempre que ouvimos ou falamos essa frase, nós mesmos ou
talvez quem nos ouça, sem pensar já formulamos nossa critica, quer
em pensamento ou expressamos com nossas palavras. Saudosismo
não...Parece que essa frase virou sinônimo de retrocesso, coisa
ruim de um passado não muito distante, velhice, algo pejorativo, sem
importância etc...Mas o que passou pode ter marcado demais a vida de
muitas pessoas. É com muita saudade sim que me lembro de alguns
fatos do passado, que hoje, por tê-los vivido, me dá suporte para
suportar a modernidade presente. Como diz um dito popular: recordar
é viver.
Se formos comparar nosso passado recente com o presente, talvez
mudemos a nossa maneira de pensar. Em nome do progresso até nosso
pensamento foi atingido. Pensamos de acordo com os valores da mídia.
Em nome de uma evolução, matamos os sonhos, o romantismo, a
gentileza, a educação, os valores morais, religiosos, familiares e
acima de tudo o respeito com o próximo, com os idosos, com as
crianças, tudo parece se esvair entre nossos dedos como uma barragem
que não suporta a força da água.
Os
bons costumes estão desaparecendo. Se é saudosismo
em sentido negativo, apenas eu mesmo posso dizer. Mesmo assim
agradeço tudo o que aprendi no passado e que, até agora, me tem
sustentado diante dessa avalanche de informações que recebemos
diariamente. Ter informação e conhecimento não é mal, mas
permitir que tudo isso nos roube a arte de pensar, de ponderar e
decidir, isso não é normal. Por isso recordo sim, e com muita
saudade, do tempo em que eu podia fazer meus próprios brinquedos, de
madeira, de lata, quer da maneira que fosse, isso me estimulava a
pensar. As crianças cresciam aprendendo a pensar. Mas devido ao
modernismo e a correria do tempo presente, compramos nossos filhos
com brinquedos eletrônicos, aliás, brinquedos virou toys, jogos
virou games, estamos “americanizando”
nossa cultura e nossos filhos em nome da modernidade. Não percebemos
que estamos desestimulando-os de crescer na arte de pensar. Pense um
pouco...onde estão aquelas brincadeiras de rua? Eram tantas que não
há necessidade nem de mencioná-las. Hoje não temos mais as
brincadeiras, não podemos mais andar nas ruas. As brincadeiras
acabaram, as ruas viraram avenidas. Os campos de futebol, deram
espaço a grandes empreendimentos imobiliários, aos
shopping-centeres.
Em nome do progresso, acabamos
com os velhos parques, que deram lugares aos temáticos, que apenas
alguns privilegiados economicamente podem dele desfrutar. Os circos,
foram substituídos por shows, eventos, cercados de uma mídia
extraordinariamente nociva que tenta vender às crianças,
determinada marca deste ou daquele produto. O consumismo não tem
parâmetro. As crianças hoje são público alvo do marketing
econômico. Os verdadeiros palhaços deram lugar aos comediantes
pragmáticos com seus roteiros grosseiros que em nada lembram os
anteriores. Levam as crianças a terem pensamentos cheios de segundas
intenções com suas piadas, em certos casos, impróprias até para
maiores. Os vendedores de algodão doce em suas carroças de pedais,
os que vendiam maçãs do amor, sorveteiros, piruliteiros que
disputavam seus clientes aos risos, todos eles atraiam as crianças
ao seu redor, as quais não corriam riscos de sequestros ou coisas do
tipo. Hoje não os vemos mais. As conversas dos mais velhos nas
calçadas, dos vizinhos nas janelas. Hoje as calçadas estão
ocupadas por pedintes que nos rogam alguns trocados, que nem sempre
acreditamos que tais pedidos sejam verdadeiros, para continuarem sua
luta pela sobrevivência. Também por vendedores ambulantes com todo
tipo de comércio, em sua maioria ilegal ou contrabandeado disputando
aos gritos os compradores que por eles passam apressados.
Da
família, aprendíamos a respeitar os mais velhos. Não devia
retrucar com os idosos e muito menos com os pais. Aprendi que devia
levantar-me do lugar em que estivesse, quando ao meu lado houvesse
uma pessoa mais velha, não importando ser homem ou mulher. Aprendi a
não falar “palavrões”
não
por imposição, mas porque não ouvia ninguém falando. Além disso,
havia as palavras que eram repetidas em qualquer atitude, como: por
favor, muito obrigado, com licença.
Meu pai era o meu modelo e exemplo. O moral (estado de espírito) e a
moral, (princípios de uma sociedade ou pessoa) assim como a boa
educação faziam parte dos ensinamentos familiares. Não que isso se
perdeu nas famílias hoje em dia, mas em nome do progresso e
liberdade de expressão posso falar o que quiser sem medir com isso a
responsabilidade de cada palavra proferida.
Se
ferir ou não os ouvintes, o problema não é meu. Muitas vezes sou
saudosista
ao entrar em qualquer transporte coletivo e deparo-me com senhoras em
pé procurando ansiosamente um assento, enquanto jovens fingem um
sono improvável no momento. Sou saudosista
ao ouvir esses mesmos jovens com suas conversas onde a cada duas
palavras, uma é sem moral. Sem contar na falta de respeito, pois
falam e agem entre si como se ninguém os tivessem ouvindo e vendo
suas peripécias. E se alguém for questionar qualquer atitude que
seja, corre-se o risco de ouvir o que não deseja, como: cuida
da sua vida que da minha cuido eu.
A família era o padrão não apenas da criança e do cidadão, mas
da própria sociedade de modo geral. Hoje é a televisão.
Na escola éramos estimulados
e incentivados ao hábito da leitura, de escrever, de ter o que falar
e o que responder. A educação cívica era ensinada e praticada nas
escolas. Hoje para se ter um bom curriculum escolar, há a
necessidade de desembolsar altas quantias para isso, e nem todos os
estabelecimentos de ensinos, como são chamados as escolas de hoje,
são de boa reputação. Em grande escala, a maior preocupação são
com os recursos financeiros que podem tirar de pais que querem dar
aos seus filhos aquilo que ele acha que não teve. Hoje esses
estabelecimentos são carregados de tarefas extra-curriculares para
atrair os pais mais preocupados em manter seus filhos fora das ruas
do que com o próprio aprendizado em si. São aulas de inglês, judô,
ballet, informática, música e tantas outras coisas que simplesmente
roubam das crianças o tempo de ser criança. Para tudo tem seu tempo
debaixo do sol. A não violência, outro item que me traz saudade.
Não era comum e nem normal,
as cenas que assistimos on-line, via satélite, na internet e que
acontecem em todos os países e que são reproduzidas em jogos
eletrônicos, levando as crianças e jovens a se identificarem com o
que vêem. Não víamos guerras por causas fúteis e pessoais que
alimentam com a morte, o ego de alguns homens, que detém a verdade
através da mentira. Hoje, os tiroteios são muito mais assustadores
do que algumas guerras. São balas que cortam o vento e sempre
encontram alguma pessoa. Não são balas perdidas, mas nós é que
estamos perdidos e as balas estão nos encontrando. O desemprego ou o
subemprego, tem levado homens e mulheres de meia idade, outrora
capacitados, hoje estão renegados em busca de latinhas de
refrigerantes para sobreviverem. A informática, outro mal
necessário. O computador tem substituído o homem em vários aspectos
humanos. O homo sapiens está virando máquina e as máquinas virando
homem. Estamos perdendo a gentileza e a humanidade. Não conhecemos
nosso vizinho. Não damos mais aquele bom dia às pessoas que moram
no mesmo andar. A frieza das máquinas invadiu o romantismo dos
homens. E por falar em romantismo, como tenho saudade dele.
Como
não ter saudades da paquera? da ingenuidade do primeiro beijo? das
tardes de domingo ensolaradas? do frio, da chuva, do futebol sem
violência? Acho que sou saudosista
demais...Hoje a paquera virou ficar,
os
jovens estão ficando, ficando...ficando com aids, ficando viciados,
estressados, doentes, angustiados, sonolentos, preguiçosos,
raivosos etc...Aquela ânsia do primeiro beijo, virou necessidade da
primeira transa. A virgindade, defendida por muitas mulheres outrora,
virou sinônimo de caretice, burrice, bobagem e de gozação entre as
meninas, algo que algumas aos dez, onze, doze anos já não sabe o
que é a muito tempo. A concorrência em ficar com o maior número de
parceiros durante uma noite, virou uma disputa entre os jovens. A
guerra pelo sexo desenfreado, tem matado os jovens e trazido ao mundo
crianças sem amor. Resultado de um simples ato carnal sem amor.
O
instinto carnal explodiu a concupiscência dos jovens despertando
neles a volúpia sexual desesperada. E o resultado dessa explosão de
hormônios são: gravidez precoce, filhos indesejáveis, adolescência
interrompida, mães, que apesar do dom divino, mãe é mãe, solteira
é estado civil, muitas ficam sem rumo e discriminadas ainda na
juventude. E os pais, os jovens do sexo masculino, se gabam por terem
um filho, ostentando-os para que toda a sociedade veja como se fossem
seus troféus. Alguns os tem com duas ou três mães diferentes. O
romantismo da conquista ficou na saudade. Não que eu seja o último
romântico, mas a cortesia, o cavalheirismo, a gentileza, princípios
tão básicos e elementares da boa educação e do relacionamento
humano são páginas viradas em nosso viver. O sistema do mundo está
um caos. O trânsito está um caos. O planeta está um caos. Estamos
mergulhados nesse caos. O aquecimento global, a poluição, a
engenharia genética, que tem levado o homem a brincar de deus, a
televisão que nos massifica e nos rouba um tempo precioso, onde
passamos as nossas tardes de domingo gastando o tempo diante de
apresentadores medíocres e seus palavreados inúteis ao invés de
gastarmos em conversas familiares. O preço que pagamos para ter uma
melhor qualidade de vida e a força da mídia tem influenciado a
nossa maneira de vida de forma violenta e abrupta. Sem falar na
ganância mercantil, na corrupção, na política suja que tem
envolvido os cidadãos, enfim, temos pago um alto preço pelo
progresso, pelo que é moderno. E com tudo isso, não posso ter
saudades
do olhar no olhar, do aperto de mão, do cinema mudo, dos desenhos
infantis sem nenhuma mensagem subliminar, das crianças correndo nas
praças, sem o fantasma da pedofilia, da pornografia, das casa de
muros baixos sem grades, dos vira-latas que as guardavam, estes foram
substituídos por pit-bulls e rotweillers treinados para matar?
Como
não ter saudades dos bailes de garagem, do rock in roll lullabay,
das vestes decentes, cabelos penteados? Hoje o som é “rave”
(do
inglês "to rave" = delirar, delírio) música "tecno"
misturada ao hedonismo (onde tudo é permitido) do corpo e do
espírito pela dança, o primitivo e o tecnológico interagem de
forma simbiótica. Assim, a música tribal, drogas do amor (o êxtase)
nos mostra como as novas tecnologias se aproximam, pelo uso, a
arquétipos ancestrais. E ainda dizem que o movimento rave é ao
mesmo tempo cultural, social e político, mas não passa de algo
alucinante.
(As raves são proibidas em vários países da Europa). O rock veio
acompanhado de sexo e muitas drogas, piercing, calças largas
mostrando as cuecas é o que “pega” dizem, calça de cintura
baixa das jovens, que mais são para serem observadas do que
vestidas, levam os jovens a percorrer longínquos caminhos em seus
pensamentos apenas para despertar nesses ainda mais a libido.
A
sensualidade tem feito das mulheres prisioneiras da beleza e todas
sonham alcançar tal padrão de beleza idênticos aos das top models
mundo afora. Se olham nos espelhos em buscas dos defeitos e não das
qualidades. Espero
que um dia, não teremos saudades dessas coisas, que servem apenas
para acabar com o linguajar sadio dos jovens, que os influenciam a
desobedecerem os pais, as autoridades, os professores
etc...Saudosismo.
Se pudéssemos preservar o passado, o presente não seria tão cruel
e no futuro haveria mais paz, solidariedade, compreensão, respeito,
amor e menos ódio, inveja, rancor, suicídios, mas como mudar o
mundo? Talvez mudando as pessoas. Quando eu mudo, posso influenciar
as pessoas no meio em que vivo.
Há
uma pessoa que mudou o mundo, mudou a história e até hoje continua
mudando e influenciando as pessoas a viverem de modo digno e
respeitável. Ele era um homem como todos os homens, a única
diferença é que ele vivia por Deus e para Deus e era Deus. Hoje
está em nós e quer que mudemos para o mundo mudar. Ele quer viver
em nós para que nós vivamos Nele. Nunca
alguém tão grande se fez tão pequeno para tornar os
pequenos
tão grandes.
Viver por Cristo, é possível. Que tenhamos saudades Dele...
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